tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

1 de novembro de 2011

A dor de distâncias

"Vem, me faz um carinho, me toque mansinho... me conte um segredo, me enche de beijo... depois vai descansar..."

Dá pra ver o brilho nos meu olhos? Dá pra ver o quanto eles brilham quando eu te vejo?
Dá pra sentir o amor no meu jeito desengonçado de querer te abraçar ou tentar te tocar por um instante qualquer, mesmo não podendo?
Meu amor, minha flor, minha menina, o medo maior que me tem bagunçado é o da injustiça. Tenho sentido dores difíceis mas que são minhas. São dores do meu amor. E não te culpo. Eu nunca poderia!
O criador de expectativas está fadado à decepção ou à tristesa, sempre.
Sabe... eu te fiz um presente... uma caixinha com todos os meus sentimentos dentro. Preciso te entregar pois já não sei se posso permanecer, assim, sentindo um tanto de solidão.
Preciso te entregar, preciso te ver, te ouvir, te sentir.
Mas insisto, o sentimento (meu) não depende do que tu sentes. A dor sim, o sentimento não. E hoje eu precisei chorar sabendo que lágrimas são importantes. Lágrimas de distância, mesmo estando tão perto.
Tenho sentido medo do que sinto, desde o dia em que dei esse salto.
Sei que tenho sentido essas dores e as pessoas perceberam. Menos você, pois a ti só devo a alegria e a leveza. A ti eu serei o melhor, sempre. É isso que eu chamo de amor. Eu queria um tempo pra te dizer que eu compreendo as limitações... ou que pelo meonos tento, sempre.
Me guarda contigo? Porque não sei até quando posso permanecer assim.
Meu amor, não me arrempendo, nenhum segundo sequer de nada que fiz por mim e por nós até hoje. Senti coisas maravilhosas. Sentimos, creio.
Mas hoje eu sinto dores.
Hoje eu penso muito.
Hoje eu quiz ir embora.

E de fato vou. Mas só cabe a você querer que eu fique.
E eu fico. Pois nessa nossa história, não há o que eu não faça.

8 de outubro de 2011

O Mundo

Um homem conseguiu subir ao céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - relevou. - Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto, pega fogo.


(Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços)


26 de setembro de 2011

(in)Visibilidade lésbica

Dia 29 de agosto é (des)conhecido como o Dia da Visibilidade Lésbica. A data recorda o ano de 1996 em que realizou-se o 1° Seminário Nacional de Lésbicas – SENALE no Brasil.

Se por um lado é dia de celebração, por outro é principalmente de discussão e reflexão sobre os estigmas, preconceitos, lesbofobia e sobre a opressão em geral a qual são submetidas as mulheres que amam outras mulheres.

O dia nacional da visibilidade lésbica no Brasil representa resistência ao machismo, ao patriarcado e sua expressão mais nociva – a heteronormatividade. A Visibilidade Lésbica é uma forma de dizer não à censura e ao cerceamento sobre os desejos e afetos dessas mulheres.

Rompendo com a heterossexualidade obrigatória na família, no trabalho, na sociedade, na militância, nos espaços de lazer, lésbicas subvertem o que é ser mulher na sociedade capitalista. Por encontrar dificuldades de colocar suas pautas dentro do próprio movimento LGBT, por estarem submetidas à ideologia machista e lesbofóbica é que as mulheres lésbicas são duplamente invisibilizadas.

O Estado cumpre um importante papel na maior invisibilização das lésbicas. Principalmente no governo atual, no qual ter uma mulher na presidência da república significa que mais do que nunca não se pode admitir que ocorram tanta violência física, psicologia, e tantos estupros corretivos ás brasileiras de orientação sexual homossexual.

É muito clara a forma como o estado e sistema capitalista se apropria da subjugação das mulheres lésbicas na sociedade. Quem mais sofre são as lésbicas trabalhadoras que além da opressão sofrem a exploração do seu trabalho não podendo viver plenamente sua sexualidade sob a pena de perder o emprego.

A disseminação dos preconceitos e discriminações entre a classe trabalhadora é importante ferramenta da burguesia na manutenção de seu poder, pois divide a classe solidificando a exploração. Desvia-se o foco de que o verdadeiro inimigo é a burguesia e passam-se a ser inimigos os trabalhadores entre si a partir das diferenças.

É preciso que as mulheres lésbicas coloquem suas pautas junto as de todos os trabalhadores no sentido de perceber que a destruição da opressão só se dará em um novo modelo de sociabilidade, com a destruição do capitalismo e na construção da sociedade socialista.

Uma verdadeira visibilidade só se dará em uma sociedade em que a opressão não seja alicerce para o sistema vigente. Enquanto houver capitalismo haverá a subjugação das grandes minorias como forma de enfraquecimento da classe trabalhadora e maior exploração da força de trabalho.
Mas é certo que não há solução individual e que a única saída é a luta organizada com a unificação das bandeiras de todos os oprimidos e explorados na construção de uma nova sociedade.

Camila Castro

publicado aqui: http://pstumaranhao.blogspot.com/

2 de setembro de 2011

Renise, luz.

"Aos vagalumes,
serei eternamente grata.
À minha luz,
sentirei eternas saudades.
E a dor e tristeza ainda existem... mas guardo só pra mim.
Sorriso de exorcismo.

Para quem eu mais amei na vida, Renise Sandra de Castro Souza, a minha mãe. Alguém em quem sei que vou pensar todos os dias que me restarem."

Depois de 1 ano eu voltei ler o texto que fiz mergulhada em tristeza por causa da partida da minha mãe. Quando partiu para não mais voltar.
Eu o evitava. Hoje eu o re-li e não parece que se passou um ano inteiro. O 2 de setembro de 2010 está tão vivo quanto antes. Em mim, na minha casa, nas coisas, lugares da cidade, no quarto dela que não mudou muito, nas minhas lembranças, nas lágrimas de saudade.
A gente segue... Com uma lágrima ou um sorriso, mesmo que de exorcismo, a gente segue. E se souber seguir chegará o dia em que as saudades não serão tão insuportáveis como outrora. Um dia em que as lembranças serão saudáveis.
Eu sinto muita saudade. Eu sinto muito amor. Muito mais do que sinto tristeza.

Hoje eu finalmente percebi que a minha mãe não está morta.

Dona Renise está viva

dentro de mim
sempre comigo.

17 de agosto de 2011

Te valorizo*

E a menina que não tem pesadelos pergunta:
- Vale a pena? Será que vale realmente a pena?
Paramos e pensamos.
Eu desatinei a falar todas as coisas que na minha cabeça pareciam estar claras e postas sobre a mesa do jantar a muito tempo... que poderíamos saborear de nossos afetos e inclusive de nossos medos, juntas. E dormir, bem, depois – eu, ela e a chuva.
Mas não se pode ter tudo não é mesmo? Não dá pra engolir o medo do outro. O outro precisa se colocar à disposição de fazê-lo.
Me servi de um pouco mais da confiança que tinha na panela e me voltei para ela e enfim dizer:
- Faço tudo pelo nosso amor. Faço tudo pelo bem do nosso bem meu bem. A saudade é minha dor que anda arrasando com meu coração. Não duvide que um dia eu te darei... não o céu, mas não duvide... disso.
Disso? Perguntaria ela.
E eu, não saberia explicar que “disso” tem feito os meus dias mais diferentes e suportáveis de serem enfrentados. Apenas soube dizer:
- Eu só sei que está acontecendo! E é bom! Você consegue sentir, meu amor?


Eu sei é que eu sou idiota e não consigo dizer - cuida de mim que eu não finjo e não esqueço de você.
Se eu ousar te contar o que eu sonhei, pode até engasgar, pagaria pra ver.
Mas como eu te valorizo, eu te espero acordar,
Pra isso.

*música de Tiê

31 de julho de 2011

*Ei gay, é preciso movimentar-se.

As fogueiras da Inquisição estão prestes as serem acesas novamente como outrora em que usavam os homossexuais como lenha. Percebemos na televisão, em grandes defensores da família ou nos simples disseminadores do ódio, que não falta quem esteja disposto a acender a primeira fagulha.

Se hoje os homossexuais não são queimados em praça pública são induzidos a acreditar que sua forma de existir é pecado, doença ou desvio moral grave. São empurrados pra invisibilidade do armário e pra manutenção dos bons costumes da nossa linda, limpa, virgem, pura e decente sociedade.

Os manicômios que tratavam com banho gelados e eletro choques as pessoas que não se atraíam por pessoas do mesmo sexo fecharam suas portas e deram lugar à simples pressão diária e ideológica propagada nos templos, escolas e mídia burguesa. Homofobia institucional velada e protegida por lei sob o véu da suposta (e deturpado conceito de) liberdade defendida por alguns opressores.


Mas para a surpresa de todos e mesmo frente ao perigo de assumir a si mesmo, homossexuais continuaram a existir... e a forçar as portas dos armários.


Um salve ao mais famoso marco na luta homossexual moderna: a Revolta de Stonewall em 1969! Salve a Madame Satã e a subversão dos papeis sociais de gênero que condicionam o feminino à subalternização em relação ao masculino. Todo o orgulho aos “fora do padrão de sexualidade” que ousam ser si mesmo e dão a cara a tapa, apesar pressão da heteronormatividade! Mas é preciso mais. É preciso movimentar-se.

Nosso Brasil, “o país sem preconceitos”, ocupa o primeiro lugar nas estatísticas mundiais de assassinato por homofobia. O que acompanhamos é uma onda de violência homofóbica acontecendo sob os narizes dos que afirmam que não é preciso criminalizá-la. Um país em que seu governo rifa os direitos dos homossexuais se dobrando à chantagem política da bancada religiosa e conservadora. Um governo que se omite e que mata. Um sistema que mata.

Repito: é preciso movimentar-se! Prestemos atenção no que está acontecendo... houve um grande acontecimento no que tange à luta de LGBT’s (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) por igualdade de direitos: o reconhecimento da união estável homoafetiva pelo STF. Porém, grande também está sendo a mobilização de reprovação a essa decisão e inclusive no sentido de vetar a aprovação do projeto de lei que criminaliza a homofobia, PLC122.

É preciso movimentar-se e estar atento para o fato de que se por um lado LGBT’s brasileiros conquistaram o reconhecimento de sua união estável, por outro continuam a mercê da violência física, moral, psicológica diariamente e sob a influência religiosa sobre um governo covarde de um estado que deveria ser laico.

É preciso estar atento ao fato de que quanto maior expressividade tiverem as nossas exigências por igualdade, maior expressividade também terá o conservadorismo e a defesa da liberdade de oprimir e discriminar. É preciso movimentar-se ou seremos afogados pela crescente onda de violência e sufocados com a fumaça das fogueiras dos corpos de nossos iguais.

É preciso movimentar-se pois não admitiremos mais que o amor por outra pessoa seja condenado e castigado cruelmente pelo simples fato de subverter ao modelo nuclear e heterossexual de família que sustenta esse sistema. Não admitiremos mais que pessoas sejam violentadas por sua diversidade e que os governos se omitam e nesse sentido contribuam para a proliferação da intolerância e homofobia.

Cada lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e não-heterossexuais em geral que são assassinados nesse país é um pouco de nós que morre. A cada violência cometida somos violentados juntos e não podemos admitir e reproduzir o preconceito no dia a dia. A cada ridicularização dos homossexuais em programas de humor e afirmação de preconceitos em geral, dizemos não.

É preciso movimentar-se, indignar-se, exigir e lutar. É preciso ir pras ruas, homossexuais ou não, juntos porque não admitimos que digam que LGBT’s não merecem dignidade porque essa é a vontade de deus ou da natureza. Seu governo laico (oi?) te representa? Cadê a luta na parada gay? Cadê você na luta? Cadê o seu lugar nessa sociedade branca, heterossexual, patriarcal, desigual e opressora?

É preciso movimentar-se, porque como Rosa Luxemburgo disse: quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.



E é preciso estraçalhar as correntes.



*Ei gay, hétero, mulher, índio, estudante, trabalhador e trabalhadora... É preciso ser movimento e precisamos o ser JUNTOS.