tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

19 de maio de 2010

Essência.

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Saber que existe alguém que te vê
muito além do que você mostra
é também perceber que se ainda existe
gente que quer te sentir, mesmo que doa,
é porque você é de verdade
e a sua vida não é vazia...
como a de muitos é.
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[prestar a atenção, sempre. valorizar, sempre.]

18 de abril de 2010

Para pessoas como "ele"... com carinho.



E chega a hora em que a menina se cansa do nariz vermelho e de sorrir sempre.
[pronto. os dias verdes estão cada vez mais cinzas]
Sente que vive as mesmas coisas a tanto tempo que os sentimentos começam a enrugar.
[e os dias são mais cinzas a cada mentira mal contada]

Ouviu dizer por aí que as situações não mudam, só mudam as pessoas.
De fato já pensava que as situações são sempre as mesmas e que por isso mesmo as pessoas, na maioria das vezes, parecem as mesmas. É tudo tão igual, a decepção e a tristeza.
Mas no fim, o fim parece estar mais próximo que o imaginado. O fim já repetido tantas vezes que parece calejar. Parece, apenas.
É o momento do espetáculo em que as máscaras caem.
Acaba a folia, acaba a musica, esgotam-se as boas desculpas, que nem boas eram... e então todos podem se ver com a clareza temida... ah, mas só podem se quiserem...
Sim, caro amigo, de aparência vivem todos os hipócritas. De riso falso e sem maquiagem de palhaço... e da platéia que os aplaude só por conveniência. Fica feio não aplaudir, onde foi a sua educação?

E sabe o circo? Exige o sorriso meio torto da menina que se cansou.
Ela não aplaude.
Por estar cansada das mentiras ouvidas todos os dias, não quer sorrir para o que não tem graça.
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A menina se cansou
E cansada está
Até não sei quando.
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2 de março de 2010

Poesia Comprometida com a minha e a tua vida.

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Para os que virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
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Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
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Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.
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Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
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É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
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Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
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(Thiago de Mello)

9 de fevereiro de 2010

*Armário Colorido

Eu e mais duas amigas, resolvemos escrever alguma coisa... mais como um livro. Tal obra contando histórias reais de um cenário singular de São Luis do Maranhão - um cenário butch. Pode parecer brincadeira, mas são histórias carregadas de amor, ódio, brigas, lágrimas, mas principalmente de companheirismo e lealdade.
Já era pra apresentação de cada uma estar pronta mas, por enquanto eu coloco uma parte da minha aqui... ainda não terminei, nem li de novo, mas tá aí, pra não dizerem que eu não fiz, viu meninas? cuidem logo de terminar as suas. beeeijo.

[Do nosso armário cheio de fatos saem muitas cores - pra não dizer que do nosso armário cheio de cores saem muitos fatos...]

eu,

Cada um é feito de suas maiores alegrias, traumas, sentimentos mais diversos e histórias paralelas... e eu sei que sou formada de tudo isso e um algo mais que não sei dizer com certeza o que é e acho que não pretendo descobrir por enquanto.

Meu nome é Carolina Chaves e eu sou de escorpião. Nascida em novembro e como toda escorpiana, tendo a se mal interpretada pela certa dificuldade de expressar alguns sentimentos e de chorar, quando visível aos demais. Mas não me leve a mal, aprendi a ser assim. Meus 19 anos me ensinaram mais coisas do que normalmente lhes cabe ensinar.

Desde muito criança me recordo das muitas mudanças que já fiz. A cada ano uma cidade diferente me esperava e lembro do quanto eu gostava das luzes pequenininhas das casas que deixávamos pra trás. A cada ano era um começar de novo e sinto que não eram só os móveis que levávamos na carroceria do carro, levávamos também a inexistência de meus amigos de infância e todo e qualquer vínculo com o passado que eu poderia ter.

Lembrar dos anos que vivi me fazem pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Coisas tipo o sorriso. Não sei se há algo mais bonito de se ver no rosto das pessoas que gostamos, mas eu sei que tenho vários sorrisos. Sei por que me disseram – uma menina me disse uma vez – e então comecei a perceber que tem muita gente que sorri de muitos jeitos pra enganar aos outros e a si mesmo. Percebi que meu sorriso, quando não é de pura e simples felicidade, é de exorcismo.

Eu vivo a rir da vida, a própria sorrindo de mim e brincando com a minha cara. Eu vivo pra sorrir porque aprendi a não chorar... só confidenciando lágrimas à mim mesma. E como dizem que a vida é um eterno aprendizado, sempre foi uma aluna esforçada. Aprendi que a menininha que cresceu ouvindo os gritos e brigas dos pais, escondida, precisava crescer. Àquela menininhas que depois tentaram faze-la entender que alguns adultos gostam de molestar crianças, precisava também, mesmo tão pequena, ouvir que seu pai tinha essa doença vergonhosa. E depois entender que ele não era seu pai, que era tudo uma mentira muito grande na sua certidão de nascimento. Eu precisei esconder essa menininha na minha maturidade precoce e não deixa-la transparecer. Afoguei-a no meu sorriso. No sorriso exorcista que estampo na face... sorriso de enganar a si mesmo.

Com o tempo você aprende que nunca vai ser fácil lembrar de certas coisas.
Mas então... eu cresci assim mesmo, entre choro e aprendizado eu também fui feliz todas as vezes que tomei banho e brinquei na rua sentindo a terra viva e molhada tocando os meus pés. Eu fui feliz depois que a mãe se separou e nós duas fomos mais uma vez, começar tudo de novo em um outro lugar... mas dessa vez éramos só nós duas. Duas mulheres pra ganhar o mundo.



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[É difícil ser sutil com algumas coisas.]
*direitos autorais reservados.

3 de janeiro de 2010

DIA 29/12/09 – Hospital do Coração
Quarta cirurgia em 2 anos.


Como é estranho ver você assim tão frágil, casada, triste e um dependente... e ao ver-te gostaria de saber de onde você ainda tira força...
Estranho lembrar da nossa história e perceber que as vezes os papéis precisam se inverter – mãe e filha.
Hoje nós vamos dormir nesse hospital, eu e você, e só Deus sabe o quanto eu fiz pra te ver sorrir, pra você não pensar no câncer, na quimioterapia, na hemodiálise, na cirurgia e em tudo o que te deixa com medo. Tudo o que me deixa com medo. E só Deus sabe o medo que eu tenho.
Hoje foi o dia em que eu te dei banho, te vesti, te ajudei a se alimentar. Foi o dia de ser os seus braços... e sei que é difícil de acreditar nessa situação, mas eu os serei sempre que você precisar. E quando não for preciso que eu seja os seus, serei os meus mesmo, em abraços para ti. Porque é só vontade de chorar o que eu sinto quando te vejo mal, doente e triste. Porque eu sei que é uma batalha diária que você trava e porque eu imagino o quanto seja difícil sorrir quando se tem tanta dor pra suportar.
Sabe, mãe, não há um só dia que eu não me lembre daquela conversa só nossa na mesa da cozinha:
- Filha eu lembro que eu Brasília nós duas éramos tão felizes e não sabíamos o quanto...
- Ah, mãe... mas daqui a algum tempo a gente vai olhar pra esse momento e vai vê que também foi feliz...
- Não vou não filha... Porque eu não sou feliz. Por mais que eu tente, sorria, dance, só eu sei o quanto eu não sou feliz [chorando]... e só Deus sabe como eu tento.

“só Deus sabe o quanto essa lembrança me machuca todos os dias...”

Lembrar da nossa história, de luta, conquista, coragem, garra e mudança constante não me deixa triste... me faz lembrar de que já passamos por tanta coisa, já vencemos tantas situações que essa também será superada... eu espero que sim... e eu te amo com todos os teus defeitos, medos e nervos. Eu te amo mais do que poderia demonstrar.
Renise de Castro é uma mulher guerreira que já errou muito na vida e que por isso soube perdoar e entender os meus erros. E que por isso sabe ser uma boa mãe. E que, não sei como, ainda vive... e suspeito eu, que ainda vive apenas por mim.
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[foto tirada por mim no dia.]

30 de dezembro de 2009

Outro dia desses um menino pobre que nunca tinha saído dos arredores de sua casa, juntou umas poucas moedas, conseguidas aqui e ali, para satisfazer sua curiosidade de sair de ônibus pela cidade. Ele ouvia dizer e queria saber o que tinha além do que vivia todos os dias...
O seu bairro era como um mundo todo ao qual se acostumara e aprendera a viver. Não se parecia nada com o que via na televisão do vizinho, mas mesmo assim o menino sentia como se tivesse TUDO.
A sua realidade não se parecia com as novelas, nem as casas, nem as famílias, nem tampouco as histórias de sempre final feliz. Mas mesmo assim ele sentia que tinha TUDO. Tinha uma mãe que saía pra trabalhas mas sempre que voltava à noite o colocava pra dormir com um beijo. Tinha uma pai, que diferentemente de seus amigos, ele sabia quem era e que o visitava de vez em quando. Tinha uma casa de tijolo sem reboco pra proteger nos tempos de chuva. SENTIA QUE TINHA TUDO.
A comida mesmo que pouca, a escola que lhe dava merenda, os amigos, a rua pra brincar até o toque de recolher e as noites pra sonhar com algodão doce do circo que nunca freqüentara. Sentia que tinha tudo, mas algo o incomodava, algo que dizia que n era o bastante se existiam coisas além, coisas pra conhecer e descobrir.
Outro dia desses, esse menino pegou o ônibus e pagou a passagem com as poucas moedas que juntara. Já havia pego um antes, mas há tanto tempo que nem se lembrava direito. Quando percebeu estava deixando o bairro, pra trás ficando seu mundo e à frente todo um desconhecido.
"Mas o que era tudo aquilo? Tanto carro, tantas casa grande, diferente... nossa que casa enorme! Porque será que alguém precisaria de uma casa desse tamanho? Porque será que tem tanto carro na rua? As pessoas não se oferecem carona, olha quantos carros com apenas uma pessoa dentro... quanta casa de vender comida, uma mais enfeitada que a outra, será que nesse mundo ninguém cozinha tão bem em casa como a mamãe? Que gente diferente...”
E olhou pra tudo, olhos pra todos e percebia que olhavam pra ele também. Então olhou para si e pela primeira vez se acham maltrapilho, meio rasgado, meio gasto, meio diferente... voltou pra casa confuso, olhou a sua volta e começou a sentir que não tinha NADA.
E desde esse dia não sentiu mais aquele gosto de algodão doce nos seus sonhos. E desde esse dia, que foi outro dia desses, o menino não sentiu mais o gosto de felicidade e satisfação que sentia antes...


E sabe o que é pior? As casas eram nossas, éramos nós nos carros, nos restaurantes, nas lojas de roupas. Aquele menino passou por nós e nós fingimos que não o vimos. Ou apenas não nos demos conta, afinal o que havia pra ver que fosse importante?”
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