tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

29 de setembro de 2012

Fica por aqui


Que essa luz comprida ficou tão bonita em você daqui...
O aroma de chá de camomila com erva cidreira misturado ao cheiro das flores plantadas em vasinhos coloridos pintados à mão por nós mesmos. Almofadas de todas as cores espalhadas pelos cantos do salão iluminado como se  o por-do-sol estivesse dentro, preenchendo, inclusive a nós. Um lugar para ficar sem sandálias, sentindo o chão, se sentindo pertencente ao todo, até mesmo ao brilho das lapadinhas amarelas penduradas como cordões pelo teto.
E música. O toca discos está no canto e pode ficar a vontade para escolher, Clara, Chico, Zé, Bethânia, Elis, Caetano, o que for. O importante é sentir cada palavra, acorde, melodia em você. É tempo de se sentir. E eu posso cantar também, se preferir, as canções que lembram o nosso tempo mais feliz.
No meio tem espaço para dançar, se você quiser, se o corpo mandar. Dançar, girar, deitar, liberar todo esse peso que está sobre nós. O peso da injustiça que presenciamos todos os dias e tanto falávamos na faculdade quando nossos intervalos coincidiam e tínhamos tempo para um café antes da próxima aula.
Acostumei-me a tomar café até depois que fostes embora para o Rio de Janeiro, porque é assim que acontece, a pessoa entra, convive, te preenche e quando vai embora, deixa em nós todos os costumes e manias e vontades e. Ainda tomo o café, forte, preto com gosto de saudade. O gosto que nunca mudou mesmo depois que voltastes para visitar.
A verdade é que as visitas não me bastam mais e preparei este salão com todas as coisas que nos fazem bem e nos fazem mais bonitos, e nos fazem mais felizes. Com nossos livros preferidos ao alcance dos dedos para os momentos em que a poesia saltar da mente. Tá tudo ali, Pessoa, Caio, García Marquez, Galeano, Neruda, Cortazar, os poemas que fiz e os que fizestes pra mim, letras, palavras, sentimentos, nós. Tudo pra você sentir vontade de ficar.
Podemos convidar todos os nossos amigos, aposto que eles vão adorar, porque está tudo tão a cara da gente, como se você nunca tivesse ido embora, e eu não tivesse teimado tanto, e você não tivesse sido tão indecisa, e eu não tivesse me desesperado. Está tudo como sempre, porque por mais que escolhamos não tocar no assunto, sabemos bem que há coisas que são para sempre.
O que eu quero te dizer é que gastei todo o meu tempo arrumando este salão e mais nada eu fazia porque não quero fazer mais nada se for pra continuar olhando para a vida em tons pastéis, somente. Eu quero voltar a olhar os tons vibrantes que me ensinastes a ver nas simplicidades da vida. No café preto, nos intervalos, no jeito de dançar, nos versos, nos acordes despretensiosos que utilizei para compor a canção que fala de nós.
Olha tudo isso, toca, sente. Olha nos meus olhos castanhos e verás que não vai ser preciso dizer eu te amo.

Deixa-me tocar para você a música que eu fiz. Fica para ouvir, por favor.

19 de agosto de 2012

Ao amigo desconexo


Há pouco tempo eu tinha repensado se esse pseudônimo que tens usado a tanto tempo era agora de fato o mais adequado a ti, caro amigo. Logo você que eu tenho visto tão confiante, pisando firme como nenhum outro vejo caminhando.
Justamente por te conhecer um pouco, bem mais do que a maioria das pessoas, acredito que tal pseudônimo não se perdeu no tempo... mesmo sendo antigo como sabemos.

Cheguei em casa e imediatamente sentei à escrivaninha. Papel e caneta para escrever uma coisa tão grandiosa que me dava calafrios de tanta responsabilidade... uma carta para um amigo muito importante. Coisas grandiosas e importantes sempre nos darão calafrios, não importa o tanto que tentemos resistir aos mesmos. Há sentimentos que não obedecem a qualquer tipo de racionalidade.
Os primeiros riscos foram esboçados... nenhum verso seria bom o bastante, eu já sabia. Depois de tantos anos e tantas vivências, experiências, havia acontecido um momento em que deveríamos estar lado a lado e eu não estive... há momentos quem que pedir perdão é a menor das atitudes que podemos ter para a resolução de nossas falhas e problemas.
A verdade, querido amigo, é que parece que já tentamos tudo. As mais diversas fugas! Desde os amores sem nomes e sem amanhãs, os dias e as noites de embriaguês, o esgotamento na luta por um mundo melhor e todos os tipos de nicotina...
Temos nos matado cada vez mais e você muito mais do que eu... percebo que tens vivido cada dia como se fosse o ultimo, como se não fosses viver o amanhã necessitando de cumprir com todos os compromissos ate o ultimo minuto do dia. Refúgio... E  eu, nem isso.
E não sei se por causa das injúrias ou pelo vinho, adormeci na escrivaninha em cima do Amor nos tempos de cólera, do García Marquez ao tentar lhe escrever algumas palavras.
Acordei com a família me exigindo explicações. Tinham os jornais nas mãos e lágrimas nos olhos diante das notícias do ultimo protesto em que protagonizei. Estremeci a valer pela base, pelas pernas e então entendi que não deveria ter acordado tão imediatamente. Quem sabe fosse melhor ter permanecido de olhos fechados o tempo suficiente para pensar as coisas que deveria dizer.
Mas acordei, caro amigo. Devemos todos acordar e encarar os que nos amam nos olhos. E depois de todos os acontecidos os últimos dias e dos últimos sentimentos , levantei-me da escrivaninha e consegui apenas escrever-lhe um bilhete:

“Em vão, tentei escrever palavras de gratidão ao meu amigo desconexo tão diferente e tão parecido a mim em vários aspectos... Sinto mais uma vez. O máximo que consigo dizer é que fazemos parte do processo de loucura e lucidez um do outro.
Independente do ciclo, sempre nos encontraremos.
Obrigado.”

31 de julho de 2012

Para lembrar, sempre.

"Ah! Mainha deixa o ciume chegar
 Deixa o ciume passar e sigamos juntos
 Ah! Neguinha, deixa eu gostar de você
 Pra lá do meu coração...
 Não me diga nunca não..."


Pequena...

Olha só, não sou muito boa com cartas. Na verdade nem sei direito como começar uma... mas eu vou começar dizendo o quanto eu gosto de ti... o quanto te admiro, como te quero bem...
Você foi, sem duvida, uma das pessoas mais lindas que eu conheci na vida. Energia muito linda a tua. E não, não é preciso estar perto pra saber disso. Pra sentir. Dá pra sentir a km de distância.
Você me desculpa? Por toda a confusão que eu fiz (você sabe qual), se em algum momento eu te magoei, me desculpa quando eu disse que não queria te ver. Você não sabe, nem tem ideia de como doeu dizer aquelas coisas, Camila. Doeu muito. Mas cê sabe, fiz aquilo porque quero o teu bem e porque tenho medo. Quero que dê tudo certo pra você, do jeito que tem que ser. Não quero que ninguém fique magoado.
Você me entende né?
Eu gosto da tua simplicidade, da tua voz, das tuas musicas, das tuas piadas sem graça, eu gosto de você. Mesmo que aconteça o que for, mesmo que você siga um caminho bem distante do meu, eu te peço para que não me esqueça. Me leva contigo. Me guarda. Lembra de mim as vezes, se puder... 
Guarde o que for bom de mim.
Olha Camilinha... Obrigada de verdade por ser quem és comigo. Por ser a pessoa tão linda e grande que és. 
Eu espero que um dia a gente possa ouvir musica junto, deitado em almofadas coloridas...
Eu vou estar sempre aqui. Volta...


(Uma carta é um artefato mágico. Essa eu vou guardar, sempre. Agradeço a quem me escreveu, de toda forma. Me desculpa também...)

29 de julho de 2012

Musica para ouvir.

Espalha seu cheiro pelo ar
Sorriso a me embriagar
E já não há... volta
E já não há... nada pra pensar

Menina, sonhos, minha melhor música, flores nos cabelos
Pele, abraço, encanto, meu filme preferido
Cores, tintas, vinis, realejos
Banho de chuva, conversas sem fim
Todo o desconcerto quando olha pra mim
O universo, os aromas, arrepios
Antes de chegar ao seu beijo

Passam os dias e eu já não sei mais
Passam os meses e eu já não sei mais
Passam os tempos e eu já não sei mais
Passam todos e só ficamos nós

E já não há... volta
E já não há... vontade de voltar.

25 de julho de 2012

Aos escritores amigos


Uma das melhores descrições que já li sobre os escritores é de Drummond... como se não estivesse a descrever a si mesmo colocava sobre o escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.
Hoje é dia nacional do escritor, um dia para homenagear amigos que conseguem e conseguiram despertar diferentes sentimentos e transformações em mim ao longo dos tempos. As linhas em que derramam suas lágrimas, sorrisos, medos e esperanças ficam guardadas em nós de diversas formas e são impossíveis de serem arrancadas, nem mesmo pela violência do mundo sem rimas.
Camila em letras e silêncio, Dayana poeta desconexo, Maiara cheia de instintos dissonantes, Carlos um fóssil e Calli e seus devaneios, brincando com as perturbações em sua mente... Vamos transformar o mundo sem rimas e sem cor, pedaço por pedaço, com um verso por rua, uma cor por paralelepípedo, uma lágrima e um sorriso pra cada dia. Se não der pra colorir tudo, que coloramos a nós mesmos por dentro antes de tudo e assim, nunca perder a vontade de sair por aí escrevendo as palavras nas paredes e nas pessoas, até que tudo esteja riscado e misturado.
As pessoas vão se reconhecer nas palavras cada vez mais, enquanto houver quem escreva. Enquanto houver quem escreva vamos poder ser lindos de tão tristes e irradiantes de tão alegres. As pessoas poderão continuar a sentir profundamente e a derramar tudo com lápis e caneta sobre uma folha qualquer e a qualquer momento. Mas principalmente, enquanto houver quem escreva, eu sentirei não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.

25 de junho de 2012

Fotografias de um jardim de três borboletas.

Ouvi dizer que cada borboleta escolhe o jardim em que habita e que de voo em voo se guia pelos sentidos.
Das muitas que a vida me deu a oportunidade de me deliciar com suas cores e formas existem três boas escolhedoras. Assim como dos muitos em que pude brincar, ouvir e descansar existe um jardim muito especial que poucos já tiveram a oportunidade de conhecer.
Sim, as borboletas escolhem seus jardins, acredito.
A menina do cabelo cacheado brinca alegremente pela grama com a Diana que ganhou de alguém que amava muito. Registra tudo da forma mais curiosa que vê. O importante é ser de verdade, pensa... se perguntando porque parece ser a única ver as coisas daquela forma.
Ela é um jardim. Mágico. Cheio de sonhos. Repleto de imagens.
O importante é ser de verdade, sabe. E por isso guarda consigo apenas os mais sinceros amigos, os mais altos desafios, um grande amor, solo fértil para cultivo dos bons sorrisos e três boas escolhedoras.
De sorriso em sorriso, bonito, constrói uma trajetória difícil. É de força e de coragem que atravessa, as vezes acompanhada e as vezes sozinha, os caminhos aventureiros que precisa. O presente na mão, o olhar único, registra. Antes menina, agora grande – no mais amplo sentido. Vasto território, hoje muito maior do que os olhos podem acompanhar. Imensidão.
As vezes, eu, perdido nas banalidades da realidade do mundo sem graça, me distancio da beleza e energia que o meu jardim favorito me traz. Me perco em escala de cinza sem perceber que se deixar levar pela rotina é pedir pra cristalizar a superficialidade de uma forma que se torne quase impossível transpassar.
Mas a saudade é o tipo de sentimento que não dá sossego (e ainda bem) e essa em especial me transporta para as lembranças de sorrisos, carinho, vagalumes. Quando a encontro, o cheiro de relva e orvalho do jardim invade a atmosfera por completo. E mais uma vez, estando, não se quer distanciar jamais.
As borboletas, como boas escolhedoras, buscam os jardins mágicos. As pessoas não. Amam antes de perceber.








São anos de alegrias, choros, obstáculos, apoio. 
Eu te amo, não esqueça.