tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

31 de maio de 2013

Encontros

Boa noite, caro amigo.

Escrevo-te esta carta datilografada, mais para dizer a mim mesma do que dizer a ti, a respeito de encontros... porque acredito que pouco pensamos sobre eles.

Caso queiras me perguntar se acredito em destino, lhe adianto que não sei ao certo sobre estas coisas de futuro... e isso não vem ao caso, também. Quero lhe falar nesta noite em que escrevo, neste momento em que abres este envelope viajado, que podemos não perceber... mas somos todos feitos de encontros.

Gostaria de te dizer que já tive muitos encontros especiais nesta vida... encontros de alma, sabe?  Destes que acontecem quando há um envolvimento do que é de verdade em alguém com o que é de verdade em você e então você fica extasiado e surpreso em como de repente se consegue sentir, falar, ouvir esse alguém de uma forma tão diferente de todas as outras pessoas.

Somos feitos dessa matéria que é o envolvimento de uma alma à outra. Algumas pessoas chamam estes encontros de amor, outras de amizade, outras de outros nomes... na verdade isso também não importa. Importante mesmo é saber o que fazer quando se tem um encontro tão especial como este. Você já parou para pensar nisso, caro amigo?

No ultimo mês de abril eu tive um encontro especial... Mas muito mais surpreendente do que eu imaginava que poderia ser. Estava pela vida sem eira nem beira, sem lenço nem documento, vendo a banda passar cantando coisas de amor... aaah o amor... estava quase para desistir do bendito, de tanto apanhar da vida, de tanto amar dolorido.  Mas eu estava lá... na avenida e vi a moça passar, tão bonita, parecia dançar.

Com um andar meio preguiçoso e apressado, de saia longa estampada, acompanhava a banda... a que eu via passar... e passou. Perdi de vista a moça que usava o lenço na cabeça, por vezes no pescoço, na cintura... incrível as várias utilidades que ela dava para o acessório colorido. Eu só sei que ela passou e eu fiquei pelo caminho.

Na manhã seguinte sai bem cedo para cumprir com os compromissos do dia, estava tudo muito tranquilo e o sol raiava forte depois da chuva que havia caído. Sentei-me no local habitual e então eu a vi novamente, para a minha surpresa a moça do lenço colorido estava bem perto de mim... foi quando pude perceber que mais do que o lenço, o seu olhar parecia me colorir também.
Eu não sabia ainda, caro amigo, mas aquele olhar passaria a me acompanhar pelos dias que me restassem.

O fato - e que coisa feia usar “fato” em um texto que fala de coisas de alma - é que minha voz chegou a tremer quando eu disse a ela que queria beijá-la. Eu realmente queria. De verdade eu tinha que ir embora, mas por um segundo tive a certeza que se eu não dissesse a ela o que eu pensava, nos perderíamos outra vez... ela passaria e dessa vez poderia ser para sempre.

A verdade é que eu sentia que aqueles olhos pediam que eu a beijasse. O batom que ela usava era o meu convite particular e irrecusável. Então a sua voz verbalizou o desejo mútuo. E preciso lhe dizer que desde esse momento eu desejo os nossos beijos todos os dias.

O encontro do qual vos falo me surpreendeu pela urgência que tivemos em misturarmos nossas almas, mesmo sem percebermos o que estávamos fazendo. Mesmo sem percebermos a seriedade do que estávamos fazendo. Acontece... caro amigo... que eu me sinto misturada a ela de uma forma extraordinariamente difícil de saber onde começo e onde ela termina.

Decidi te contar estas coisas para que não penses que é mero capricho e exagero dos poetas quando eles dizem que um pedaço de si pertence ao outro que é o objeto do seu amor. Objeto também uma palavra feia nos meio destas outras, mas na maioria das vezes o problema das palavras é a forma como as sentimos e não o seu sentido literal.

Amigo, um pedaço de mim não me pertence mais e o mais louco de tudo é que estou feliz por isso. Veja só! Quanta loucura no ser que vos escreve! De fato, loucura extrema que me levou todos os medos me preenchendo da mais pura coragem e vontade de ser feliz. Minha vontade de ser feliz se mistura à vontade de proporcionar felicidade á dona dos meus bom dias e boa noites diários.

Acreditarias se eu dissesse que passei a andar de um jeito preguiçoso e apressado?

Veja bem... vou entender se me disseres que não acreditas em nada que vos digo. Que isto tudo é falácia de romance literário ou então delírio de tolos. Eu mesma cheguei a pensar desta forma! É que quando se apanha tanto por causa de amor, por causa da indecisão das pessoas, por causa da intensidade do que se sente... por tantos motivos... é mais fácil deixar de acreditar que há mais de um alguém neste mundo que pode te ajudar a ser mais feliz do que você poderia imaginar.

Mesmo assim declaro que minha alma foi surpreendentemente misturada à dela desde o primeiro beijo. E eu te afirmo, sem medo de que aches que é tolice, que vale a pena acreditar e se permitir. Porque o importante não e apenas ter um encontro... mas saber o que fazer quando ele acontece. Importante é reconhecê-lo e a partir daí deixar que ele engula o seu medo, te permitindo viver perigosamente pelos caminhos desconhecidos da alma do outro enquanto o outro te percorre da mesma forma.

Hoje eu não vou encerrar este texto de forma coerente... Me recuso a dar um fim lógico pra esse esboço de pensamento, mas eu gostaria que você pensasse a respeito dos encontros e de como lidamos com eles. O meu encontro, caro amigo, me surpreendeu porque, mesmo sem saber, aconteceu exatamente como eu sempre esperei que acontecesse... e é por isso que eu estou tão feliz.

E eu desejo essa felicidade a ti.


1 selos:

Anônimo disse...

"É que quando se apanha tanto por causa de amor, por causa da indecisão das pessoas, por causa da intensidade do que se sente... por tantos motivos... é mais fácil deixar de acreditar que há mais de um alguém neste mundo que pode te ajudar a ser mais feliz do que você poderia imaginar."

Postar um comentário