Que essa luz comprida ficou tão bonita em você daqui...
O aroma de chá de camomila com
erva cidreira misturado ao cheiro das flores plantadas em vasinhos coloridos
pintados à mão por nós mesmos. Almofadas de todas as cores espalhadas pelos
cantos do salão iluminado como se o por-do-sol
estivesse dentro, preenchendo, inclusive a nós. Um lugar para ficar sem
sandálias, sentindo o chão, se sentindo pertencente ao todo, até mesmo ao brilho
das lapadinhas amarelas penduradas como cordões pelo teto.
E música. O toca discos está no
canto e pode ficar a vontade para escolher, Clara, Chico, Zé, Bethânia, Elis,
Caetano, o que for. O importante é sentir cada palavra, acorde, melodia em
você. É tempo de se sentir. E eu posso cantar também, se preferir, as canções
que lembram o nosso tempo mais feliz.
No meio tem espaço para dançar,
se você quiser, se o corpo mandar. Dançar, girar, deitar, liberar todo esse peso
que está sobre nós. O peso da injustiça que presenciamos todos os dias e tanto
falávamos na faculdade quando nossos intervalos coincidiam e tínhamos tempo para
um café antes da próxima aula.
Acostumei-me a tomar café até
depois que fostes embora para o Rio de Janeiro, porque é assim que acontece, a
pessoa entra, convive, te preenche e quando vai embora, deixa em nós todos os costumes
e manias e vontades e. Ainda tomo o café, forte, preto com gosto de saudade. O
gosto que nunca mudou mesmo depois que voltastes para visitar.
A verdade é que as visitas não me
bastam mais e preparei este salão com todas as coisas que nos fazem bem e nos
fazem mais bonitos, e nos fazem mais felizes. Com nossos livros preferidos ao alcance
dos dedos para os momentos em que a poesia saltar da mente. Tá tudo ali,
Pessoa, Caio, García Marquez, Galeano, Neruda, Cortazar, os poemas que fiz e os
que fizestes pra mim, letras, palavras, sentimentos, nós. Tudo pra você sentir
vontade de ficar.
Podemos convidar todos os nossos
amigos, aposto que eles vão adorar, porque está tudo tão a cara da gente, como
se você nunca tivesse ido embora, e eu não tivesse teimado tanto, e você não
tivesse sido tão indecisa, e eu não tivesse me desesperado. Está tudo como
sempre, porque por mais que escolhamos não tocar no assunto, sabemos bem que há
coisas que são para sempre.
O que eu quero te dizer é que
gastei todo o meu tempo arrumando este salão e mais nada eu fazia porque não
quero fazer mais nada se for pra continuar olhando para a vida em tons pastéis,
somente. Eu quero voltar a olhar os tons vibrantes que me ensinastes a ver nas
simplicidades da vida. No café preto, nos intervalos, no jeito de dançar, nos
versos, nos acordes despretensiosos que utilizei para compor a canção que fala
de nós.
Olha tudo isso, toca, sente. Olha
nos meus olhos castanhos e verás que não vai ser preciso dizer eu te amo.
Deixa-me tocar para você a música
que eu fiz. Fica para ouvir, por favor.
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