tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

13 de setembro de 2010

À quem eu mais amei nessa vida.

Eu tentei pensar no que escrever. Não consegui organizar pensamento algum... e por isso ficou tudo assim mesmo, desordenado e com sentimento de saudade.
Saudade de quem mais me amou nessa vida.

Em 1990 o parto de uma mãe solteira foi meu primeiro acontecimento na vida. Minha mãe, a minha vida. Hoje, nas fotos posso perceber o olhar vibrante de uma mulher linda que acabara de conceber, dar a luz ou qualquer quer seja a nomeclatura que é costumeiro dar a esse momento. Eu prefiro dizer que fui parida. Sim, parida e amada desde esse dia até o dia em que findou-se a vida para uma de nós.
A mim, hoje, não importa o fato de termos morado em tantas cidades e estados diferentes todos os anos. O que eu sei é que fomos principalmente só nós duas... duas pra guerrear no mundo.
Tenho orgulho de dizer que o que vivemos, eu e ela, foram os momentos mais significativos e formadores da pessoa que sou hoje. A política, o mst, a realidade, o sindicato, o funcionalismo público, as vezes em que passamos fome, dormimos mal, as vezes em que foi preciso fazer grandes sacrifícios e as vezes que a vi chorar...
A vez em que ela me aceitou como sou e me amou da mesma forma, porque sabia que eu precisava.
E depois vivemos a falência dos rins, a hemodiálise, o medo, a insegurança... tudo vencido por ela... por nós, juntas. E como se não fosse o bastante veio o câncer... com ele a quimioterapia, os enjôos, a queda do cabelo e a fraqueza física. Mas com a força que não sei de onde vinha e da vontade de viver que ela tinha eu a vi vencer todas estas coisas mais.
Eis que chegou o momento em que conhecemos uma palavra fria e triste que, eu não sabia mas, ia me assustar por muito tempo - Metástase.
Essa porra de metástase que significou para mim o medo constante de perder a pessoa mais importante da minha vida, agora era fantasma presente todos os dias. E com ele veio o sangue, escarrado diariamente no balde ao lado da cama... veio a ausência de fome, outra quimioterapia, a dificuldade de respirar, as noites em claro, o hospital, o medo, o choro e a partida.
Partida para nunca mais voltar. Para sempre.

O choro no hospital, no velório e no sepultamento. O choro de todos nós.
Não sei bem quantos "meus pêsames" e "meus sentimentos" eu ouvi... de verdade não sei quantos foram mera formalidade, mas o que lembrarei sempre e darei devida importância é aos abraços sinceros e a atenção que recebi de cada pessoa nesses dias difíceis, escuros e tristes. Os vagalumes que fizeram força pra iluminar meu caminho quando a minha luz se apagou.
Aos vagalumes,
serei eternamente grata.

À minha luz,
sentirei eternas saudades.

E a dor e tristeza ainda existem... mas guardo só pra mim.
Sorriso de exorcismo.
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[poderia ser mais bonito, poético ou emocionante. Mas é só um texto, que eu não tinha intenção de escrever. O que eu senti e sinto nunca poderia ser demosntrado aqui. Eu nunca conseguiria.]
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Para quem eu mais amei na vida, Renise Sandra de Castro Souza, a minha mãe. Alguém em quem sei que vou pensar todos os dias que me restarem.