tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

9 de agosto de 2009


Estou apaixonado por uma flor. Um sentimento tão incrível que só preciso estar a olhar pra ela e o mundo inteiro fica verde.
Todos os dias me perco pelas ruas, andando algumas léguas até o jardim aonde ela está plantada e fico lá. Apenas fico lá, até uma tarde inteira e me sinto feliz.
Quando percebo algo de diferente com tal flor, mais que depressa me disparo a buscar água e derramo com carinho sobre as suas pétalas, caule e terra. Sinto que ela respira fundo e sente um alívio momentâneo. Não sei se é verdade, mas é o que sinto.
Mas sem eu menos esperar houve o dia em que eu não consegui sair dali. A lua tomava o seu lugar e eu simplesmente não conseguia me afastar. Fiquei com medo de não sentir mais vontade de ir pra casa. O que seria de mim...
Logo me assustei. O dono do jardim apareceu no meio da noite e é claro que eu devia imaginar que flores lindas deveriam ter sido plantadas por alguém. Ele caminhava sobre a grama observando tudo e de repente parou. Parou diante da minha flor, aquela que permeava o colorido dos meus sonhos. Parou, fitou-a e com um enorme balde, despejou toda a água sobre ela de uma vez só! Como aquele infame podia jogar tanto sobre ela sem medo de que ela se machucasse com toda a força?!
Estou apaixonado por uma flor e toda vez que a deixo sozinha, imagino que ele volta e afoga-a novamente. Como posso eu viver com isso? Eu que sempre tive todo o cuidado para não machuca-la com a minha rega...
Eu não sinto mais vontade de ir pra casa. Posso passar os dias todos ali, a vê-la e ver as noites em que seu dono afoga-a. Não posso ir pra casa, porque se me for... tenho medo que quando voltar, ela esteja arrancada e plantada longe de mim.
Não posso retirá-la dali e leva-la comigo. Não até que eu saiba que regar com cuidado, carinho e compreensão é o que ela precisa.
Estou apaixonado por uma flor e então penso que se as flores são frutos da natureza de Deus meu, não devem pertencer a ninguém. E não quero possuí-la como o dono do jardim, quero apenas cuidá-la, contemplá-la e faze-las feliz, porque isso me faz feliz.
E se ela me permitir, a plantarei em um jardim livre, sem donos onde eu possa beijar o seu perfume, dormir sobre a grama e respirar o bem que me faz.
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[texto que havia escrito a algum tempo.. achei enquanto revirava alguns de meus dias que guardo na gaveta do armário. Acho que pouca gente vai entender o que tem da minha alma aí]
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[foto de resolução baixa do celular que ainda não me roubaram e... a rosa... bem... como dissestes, era tão grande que quase não cabia na minha mãozinha...]

3 selos:

O Eu Flor que sonha. disse...

Os sentimentos quando verdadeiros possuem a beleza desta flor da foto.
Contanto, é preciso regá-los na medida certa,também,antes de regarmos as sementes.
E a pergunta fica: Quando eles são confusos,o perfume imaginável que embriaga,não nos deixa ver a efemeridade do sentir de nós mesmos?!
dificil de saber.

Belissimo texto.

Não é necessário disse...

realmente... teu texto é de uma intensidade, parece ser bem da alma mesmo.(tua)

lindo texto, parabéns!

Fóssil disse...

às vezes os donos dos canteiros são os que menos merecem as flores que acham que possuem (como se se pudesse possuí-las). É da minha natureza acreditar que a espera do amante será recompensada e um dia ele poderá levar a flor para um terreno apropriado. Contudo...


Como são indignos os donos de canteiros. E abençoados sejam aqueles que sabem medir a água com que regam suas flores.

Lindo texto, menina =)

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