tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

27 de janeiro de 2011

Acrobata*

Minha recomendação é que leiam, primeiramente, apenas o texto de cor preta que é na íntegra o texto de Galeano.
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Luz Marina Acosta era menininha quando descobriu o circo Firuliche.
O circo Firuliche emergiu certa noite, É quando menos se imagina e não se sabe bem de onde vem o arrepio... mas nesse momento você entende que esperou toda a vida por isso. mágico barco de luzes, das profundidades do Lago Nicarágua. Eram clarins guerreiros as cornetas de papelão dos palhaços e bandeiras altas os farrapos que ondeavam anunciando a maior festa do mundo. A lona estava toda cheia de remendos, e também os leões, aposentados leões, mas a lona era um castelo e os leões, os reis da selva. E uma senhora rechonchuda, brilhante de lantejoulas, era a rainha dos céus, balançando nos trapézios a um metro do chão.
Então, Luz Marina decidiu tornar-se acrobata. E saltou de verdade, lá do alto, e em sua primeira acrobacia, aos seis anos de idade, quebrou as costelas. E mesmo que se quebrem as costelas, não deixa de saltar jamais. O que é uma costela diante da sensação, por mínima que seja, de voar?
E assim foi, depois, a vida. Na guerra, longa guerra contra a ditadura de Somoza, e nos amores: sempre voando, sempre quebrando as costelas.
Porque quem entra no circo Firuliche não sai jamais.
Quem sente o gosto do sonho, nunca mais é o mesmo. Nunca mais consegue viver sem sonhar. Quem consegue voar não se contenta em um mundo na superfície... e é linda a alma de quem não quer o vôo solitário, mas sonha com que todos possam voar.

Se sonha, se luta.

Porque quem entra no circo Firuliche não sai jamais.
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*Eduardo Galeano é um escritor uruguaio que fala da nossa gente. Que me faz arrepiar, acreditar e ter muito mais vontade. Os escritos em vermelho são dele em mim... são meus por ele.