tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

25 de dezembro de 2012

Trancado e febril

Me desvisto de tudo o que me atrasa, me afasta e me ofusca de você. De ti o tudo o que eu puder e o que deixares que eu alcance, sem medo das falácias das línguas mais ou menos respeitadas.
Desisti de todo o resto que me usurpa o desejo de prender-me ao nosso universo que construímos cheios de cores, músicas, danças, rimas, lágrimas, beijos e ausências. Tudo por apenas um instante. Sem roupas, relógios, sapatos e culpas. Entre e se deixe ficar porque o tempo lá fora não é o tempo que é nosso. Pois até o nosso silêncio tem mais poesia do que os livros que temos lido.
Se deixe envolver, gruda na minha carne, saboreia o que conseguires de minha alma. Deita do meu lado, juntos assistiremos Across The Universe e será como se estivéssemos vendo a nós mesmos e ouvindo as canções que também falam das loucuras das quais somos feitos.
Sei que estou febril e um pouco distante da lucidez, mas o amor que tenho em mim me alimenta e me consome diariamente, enquanto tudo o que consigo fazer é atravessar as noites a lhe escrever estas cartas que nunca lhe entregarei.
Abandonei o emprego, me desfiz de todas as obrigações hipócritas às quais nos submetemos no cotidiano para cumprir um papel que não corresponde ao que somos, ao que sentimos, ao que queremos. Já faz tempo só quero ficar aqui, mesmo que trancado, mesmo que febril, mesmo que a olheiras tenham escurecido a cada noite em que roubastes meus sonhos e em todos eles me abandonastes.
A verdade é que tranquei-me para guardar-te dentro de mim e para que ninguém pudesse tirar-te. 
Amontoo cada vez mais todos os poemas, desenhos, inspirações suas em mim dentro da caixa ao lado da máquina de escrever.
As vezes saio do devaneio e respiro um pouco na janela do quarto. Eis o único momento em que penso: do nosso universo terá sobrado algo além de mim e do amor que tenho guardado? 

19 de dezembro de 2012

Qualquer dia desses é Carnaval

Qualquer dia desses seja pela praia ou seja pelas ruas, quem sabe naquele boteco da praça, qualquer lugar da sua vida, saio por entre os outros e te surpreendo com olhar vivo, castanho claro e te dou um boa noite. 
Me verás da mesma forma de antes, no colorido dos meus olhos toda a história já vivida e a poesia pulsante e que já é tudo meu e há pouco do que era o nosso.
Te surpreendo com voz doce e rima amiga, como uma mescla de musica calma e cores abertas e nestes segundos de certeza te beijarei a face com a sutileza de amante antigo e gentil.
Sorrirei com carinho enquanto afago teus cabelos no abraço de saudade e partirei entre os brincantes deixando apenas a estranha sensação do não vivido. Do que não houve. Do que podia ter sido.
Dançando nos perderemos pela multidão pelos caminhos que traçamos sob as marchinhas do carnaval mais esperado. Cada vez mais distantes um do outro.
Guardarei a lembrança do teu cheiro de folia e o tom da sua voz como se não houvesse possibilidade de outro encontro. Porque mesmo o passado é presente e o que vai se perdendo nem sempre se sente. Pois todo carnaval tem seu fim, assim como também tivemos o nosso.
E se outrora triste, hoje sou só alegria, ponha sua máscara que refiz minha maquiagem. Do nosso final nos restaram apenas as cartas de amor e caixinhas guardadas no fundo das gavetas as quais abrimos pouco... todas cheiasdo que poderia ter sido e nunca mais poderá ser.
Qualquer dia desses, pela praia, pelas ruas, tanto faz... pela sua vida eu apareço sob a forma daquela sua música favorita.
Ou quem sabe na próxima esquina,