tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

19 de agosto de 2012

Ao amigo desconexo


Há pouco tempo eu tinha repensado se esse pseudônimo que tens usado a tanto tempo era agora de fato o mais adequado a ti, caro amigo. Logo você que eu tenho visto tão confiante, pisando firme como nenhum outro vejo caminhando.
Justamente por te conhecer um pouco, bem mais do que a maioria das pessoas, acredito que tal pseudônimo não se perdeu no tempo... mesmo sendo antigo como sabemos.

Cheguei em casa e imediatamente sentei à escrivaninha. Papel e caneta para escrever uma coisa tão grandiosa que me dava calafrios de tanta responsabilidade... uma carta para um amigo muito importante. Coisas grandiosas e importantes sempre nos darão calafrios, não importa o tanto que tentemos resistir aos mesmos. Há sentimentos que não obedecem a qualquer tipo de racionalidade.
Os primeiros riscos foram esboçados... nenhum verso seria bom o bastante, eu já sabia. Depois de tantos anos e tantas vivências, experiências, havia acontecido um momento em que deveríamos estar lado a lado e eu não estive... há momentos quem que pedir perdão é a menor das atitudes que podemos ter para a resolução de nossas falhas e problemas.
A verdade, querido amigo, é que parece que já tentamos tudo. As mais diversas fugas! Desde os amores sem nomes e sem amanhãs, os dias e as noites de embriaguês, o esgotamento na luta por um mundo melhor e todos os tipos de nicotina...
Temos nos matado cada vez mais e você muito mais do que eu... percebo que tens vivido cada dia como se fosse o ultimo, como se não fosses viver o amanhã necessitando de cumprir com todos os compromissos ate o ultimo minuto do dia. Refúgio... E  eu, nem isso.
E não sei se por causa das injúrias ou pelo vinho, adormeci na escrivaninha em cima do Amor nos tempos de cólera, do García Marquez ao tentar lhe escrever algumas palavras.
Acordei com a família me exigindo explicações. Tinham os jornais nas mãos e lágrimas nos olhos diante das notícias do ultimo protesto em que protagonizei. Estremeci a valer pela base, pelas pernas e então entendi que não deveria ter acordado tão imediatamente. Quem sabe fosse melhor ter permanecido de olhos fechados o tempo suficiente para pensar as coisas que deveria dizer.
Mas acordei, caro amigo. Devemos todos acordar e encarar os que nos amam nos olhos. E depois de todos os acontecidos os últimos dias e dos últimos sentimentos , levantei-me da escrivaninha e consegui apenas escrever-lhe um bilhete:

“Em vão, tentei escrever palavras de gratidão ao meu amigo desconexo tão diferente e tão parecido a mim em vários aspectos... Sinto mais uma vez. O máximo que consigo dizer é que fazemos parte do processo de loucura e lucidez um do outro.
Independente do ciclo, sempre nos encontraremos.
Obrigado.”